Esse é o artigo da edição 02 da Revista Esplêndida Gastronomia, na qual sou articulista.
A gastronomia portuguesa é famosa mundialmente e dentro dela destacam-se os doces portugueses, que acabaram se tornando um dos grandes atrativos deste país apaixonante que é Portugal.
Os doces estiveram sempre presentes nas refeições dos conventos e mosteiros portugueses, mas somente a partir do século XV, com a introdução do açúcar ganharam notoriedade. Foi nessa época que o açúcar entrou na tradição gastronômica dos conventos, pois o principal adoçante era o mel, sendo o açúcar um ingrediente raro, não muito conhecido e muito valioso naquele período.
O açúcar possibilitou a criação de varias caldas, que mãos sábias souberam aperfeiçoar. Naquela época, a população dos conventos era na sua maioria composta por mulheres que não tinham escolhido a vida conventual pela fé, mas por imposição social. Para se entreterem, durante o interminável tempo de clausura, elas se dedicavam à confecção de doces, que foram aperfeiçoando e diversificando.
Como Portugal era o maior produtor de ovos da Europa, grande parte das claras era exportada e usada como purificador, na produção de vinho branco, ou ainda usadas como goma, tanto no vestuário dos nobres, como nos hábitos das noviças, principalmente. Com toda essa utilização de claras, a sobra de gemas, que era muito grande, ia para o lixo ou acabava como alimento dos porcos.
Esse excedente de gemas, aliado à abundância do açúcar que vinha das colônias portuguesas, foi a inspiração para a criação de deliciosas receitas de doces à base de gemas de ovos, nas cozinhas dos conventos. Assim, a famosa doçaria conventual tinha sempre como ingredientes principais, muito açúcar e muitas gemas de ovos, além de amêndoas, leite e canela.
Os próprios nomes desses doces estão relacionados com a vida conventual e a própria fé católica, como por exemplo: Barriga de Freira, Beijo de Freira, Fatias dos Anjos, Fatias do Céu, Papos de Anjo, Toucinho-do-Céu e Orelhas de Abade, entre outros.
A produção desses doces conventuais se tornou uma fonte de renda para os conventos e mosteiros, e conseqüentemente se transformaram em importante fonte de renda para muitas cidades de Portugal, e assim a fama conquistou o mundo. Cada região de Portugal tem seus doces típicos, que podem ser encontrados em pastelarias locais ou nas tradicionais festas populares, que se realizam de tempos em tempos. A lista de doces conventuais é extensa e abrange todas as regiões de Portugal, mas a confecção de um determinado doce pode variar conforme a região ou o convento de origem, como o Pão-de-Ló, que é produzido em vários vilarejos, cada qual com uma receita própria, sendo o mais famoso deles o Pão-de-Ló de Ovar.
Muitos destes doces foram trazidos para o Brasil juntamente com a colonização portuguesa, mas é quase certo que nenhum deles consegue chegar aos pés dos doces produzidos em solo lusitano.
Dentre todas as delicias citadas, escolhi a seguinte receita:
Toucinho-do-Céu
Ingredientes
- 300 gramas de açúcar
200 gramas de amêndoas sem pele, moídas
12 gemas
1 clara
200 ml de água
Açúcar de confeiteiro para polvilhar e amêndoas sem pele para decorar.
Modo de Preparo
Em uma panela colocar o açúcar e a água, e levar ao fogo até ferver.
Em seguida misturar a amêndoa moída e deixar no fogo por 5 minutos, mexendo de vez em quando.
Retirar do fogo, deixar amornar, e acrescentar as gemas batidas.
Leva-se novamente ao fogo, mexendo sempre até soltar do fundo da panela.
Retirar do fogo e adicionar a clara batida em neve.
Untar e enfarinhar uma forma (20 cm de diâmetro), e levar ao forno, pré-aquecido a 180°C, por 30 minutos.
Desenformar depois de frio e servir, polvilhado com o açúcar e as amêndoas.
Beijos
CHRIS